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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

INTRODUÇÃO

O Art Nouveau foi um movimento artístico do final do século XIX, que buscava, essencialmente, promover uma reforma nas artes de forma a libertá-la dos cânones acadêmicos e melhor contextualiza-la à nova realidade instaurada pela Revolução Industrial. Visando criar uma arte totalmente nova este movimento buscou diversas influências no passado como também em outros países, em especial o Japão. Este, cuja insularidade se finda em 1854 com a abertura de seus portos ao mundo, influencia de forma decisiva toda a produção artística européia na virada do século, instituindo padrões totalmente diferenciados a partir do intercâmbio destas duas culturas.
As contribuições nipônicas para o Art Nouveau, são reflexos dessa tendência européia ao Japonismo, perceptíveis desde os impressionistas, cujos ideais artísticos se afirmaram principalmente sob a figura de Van Gogh. Inseridos neste contexto, os artistas nouveau, desde os pintores aos arquitetos, estiveram impreterivelmente sujeitos a essa nova influência estética, cuja excentricidade aos padrões ocidentais servia perfeitamente aos propósitos de renovação artística do Art Nouveau.

ART NOUVEAU - ASPECTOS GERAIS

Sob o termo mais popularmente difundido Art Nouveau, define-se um estilo de arquitetura e artes figurativas e aplicadas que, na última década do século XIX e na primeira do século XX, propõe-se a interpretar e acompanhar o esforço progressista e econômico-tecnológico da civilização industrial. Tal movimento, portanto, busca criar uma nova expressão artística que seja condizente com a nova realidade social instituída pela Revolução Industrial. Para tanto, propõe-se o rompimento com o estilo acadêmico que o procedera, que se baseava na retrospecção de modelos do passado e na repetição muitas vezes eclética desses padrões.

Em contraste com esse servilhismo ao passado e às tradições dele derivadas, os artistas art nouveau proclamavam a intenção de basear sua arte na realidade presente ou mesmo em visões futuristas de uma realidade vindoura.(BARILLI, 1991, p. 11)


O Art Nouveau foi simultâneo em toda a Europa Ocidental, influenciando diversas vertentes artísticas até a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Apesar da unicidade cultural promovida no ocidente europeu, este movimento apresentou diversas particularidades em cada país, cujas diferenciações se fazem presentes inclusive nas denominações do movimento, como por exemplo, Jugendstil, na Alemanha, Liberty, na Itália, Wiener Werkstaette, na Áustria, Arte Nova, em Portugal e, no caso particular da França recebe inúmeras denominações, como Art Nouveau, estilo Métro, estilo Nouille ou ainda estilo Chicorrée.

Com o nome de Arte Nova designamos hoje um fenômeno que no seu tempo recebeu várias denominações e que não teve exatamente os mesmos aspectos nos diferentes países, separados por fortes traços nacionais e por situações sócio-econômicas diversas. (PIJOAN, 1978, p. 61)


A análise do contexto em que tal movimento se insere possibilita a delimitação de conceitos, influências, bem como dos objetivos do Art Nouveau. Segundo Colquhoun (2005), este teve seu desenvolvimento fortemente ligado à aparição de uma nova burguesia industrial, como também aos movimentos de independência política que eclodiram na Europa no final do século. A Revolução Industrial alterou radicalmente as condições tanto individuais como coletivas da produção artística. Tal conjuntura que se afirmava mediante a subordinação às máquinas e ao progresso, também trouxe consigo as contestações sociais e artísticas, imbuídas também de ideais nacionalistas, frente a essa nova realidade. O Art Nouveau, portanto, configura-se como um movimento que invoca as aspirações inovadoras desta época, buscando melhor contextualizar as artes, imbuindo-as, no entanto, de ideais libertários e de um certo grau de contestação. Em vários países o Art Nouveau converteu-se em um emblema de liberdade cultural. É uma reação estética às produções artísticas oriundas da máquina, como também ao academicismo, que há tempos incutia as artes de esterilidade e artificialidade, buscando, dessa forma, criar um estilo totalmente novo e liberto.

[...] o Art Nouveau é um fenômeno novo, impotente, complexo, que deveria satisfazer o que se acredita ser a “necessidade da arte” da comunidade inteira.[...] Instaura entre eles (países industriais europeus e americanos) um regime cultural e de costumes quase uniforme, apesar das ligeiras variações locais, e de caráter explicitamente moderno e cosmopolita. É um fenômeno tipicamente urbano.[...] Interessa a todas as categorias dos costumes: o urbanismo de bairros inteiros, a construção civil em todas as suas tipologias, o equipamento, urbano e doméstico, a arte figurativa e decorativa, as alfaias, o vestuário, o ornamento pessoal e o espetáculo. (ARGAN, 1993, p.189)


Além das questões relativas a contextualização da arte, o Art Nouveau também resgatava as discussões do Arts and Crafts acerca do papel do artista, bem como da qualidade artística das obras frente a essas imposições da máquina. Sob tal conjuntura, segundo França (1987), o estilo nouveau busca, sob influência das idéias de Morris, dos impressionistas e dos simbolistas, conciliar a arte e a técnica. De acordo com Sembach (2007), o Art Nouveau pode ser interpretado como uma tentativa de conciliar as aspirações artísticas herdadas do passado e os fenômenos da era técnica, um contato, que até então, historicamente, tinha se processado de forma efêmera e defensiva. Outra influência notável no Art Nouveau é arte oriental que sob a forma do Japonismo, instituiu padrões estéticos totalmente diferentes da tradição ocidental, contribuindo de forma veemente para criação de um estilo original e inovador. Segundo Colquhoun (2005), elementos que remetem aos estilos medieval e rococó também se fazem presentes neste novo movimento, evidenciando o resgate histórico como fonte de inspiração para criação de algo totalmente novo.

Quando o Art Nouveau incorporava elementos do passado, utilizava-se de estilos tão distanciados - no tempo (medievais) ou no espaço (chineses, japoneses) – da tradição renascentista clássica que o resultado ainda sim parecia original e moderno. (BARILLI, 1991, p.11)


Inserido em contexto que se afirmava pelo modernismo e a industrialização, é inegável que o Art Nouveau invocasse tendências individualistas. O sucesso do artista dependia inteiramente de sua força pessoal e de sua sensibilidade.
Como típico movimento Modernista, o Art Nouveau apresenta, portanto, certas tendências e objetivos.

1) deliberação de fazer uma arte em conformidade com sua época e a renúncia à invocação de modelos clássicos, tanto na temática quanto no estilo; 2) o desejo de diminuir a distância entre as artes “maiores” (arquitetura, pintura e escultura) e as “aplicações” aos diversos campos da produção econômica (construção civil corrente, decoração, vestuário, etc.); 3) busca de uma funcionalidade decorativa; 4) a aspiração a um estilo ou linguagem internacional ou européia; 5) o esforço em interpretar a espiritualidade que se dizia [...] inspirar e redimir o industrialismo. Por isso, mesclam [...] motivos materialistas e espiritualistas, técnico-científicos e alegóricos-poéticos, humanitários e sociais. (ARGAN, 1993, p. 185)


De acordo com Eco (2004) o Art Nouveau surge, portanto, como um novo padrão de beleza que representa e consolida os padrões da classe burguesa emergente, instituindo um conjunto de valores morais, de regras de bem-vestir e comportamento em público, como também cânones estéticos e arquitetônicos próprios. Ainda segundo este autor, tal modelo de beleza burguês é pautado na praticidade, solidez, durabilidade e no pragmatismo, estabelecendo uma nítida diferença entre a estrutura mental burguesa e a aristocrática. O Art Nouveau, portanto, configura-se como uma tentativa de comunicar uma necessidade econômica de forma estética.

Na Inglaterra avança a convicção de que a nova beleza do século XIX deve ser expressar através das forças da ciência, da indústria e do comércio, destinados a suplantar valores morais e religiosos que no passado exerceram um predomínio doravante exaurido. (ECO, 2003, p. 366)


Segundo Gombrich (1993), assim como seus antecessores Ruskin e Morris, os artistas do Art Nouveau ansiavam por uma arte baseada em uma nova sensibilidade para o desenho e para as novas possibilidades em cada material. Este último aspecto, em especial, é um dos grandes expoentes desse movimento, se tratando, principalmente, do ferro. De acordo com Pevsner (1962), a partir de Viollet-le-Duc, tal material adquire um caráter dualista, servindo tanto a fins decorativos como estruturais. Associado ao vidro, ofereceu novas possibilidades infindáveis, sendo apropriados abundantemente pela arquitetura e pela decoração, criando novos padrões construtivos e estéticos contextualizados com a sociedade industrializada e seu espírito inovador-progressista. Outro material largamente explorado pelos artistas nouveau foi a madeira, com destaque no mobiliário, no qual era evidente a contradição entre a natureza do material e o desejo de expressão do estilo, devido à pouca maleabilidade da madeira. Outros materiais importantes na produção artística do Art Nouveau foram a cerâmica e o vidro.
Diante de tal contexto geral e de alguns acontecimentos históricos específicos é possível delinear algumas características mais genéricas do Art Nouveau.

Independentemente das variações de tempo e espaço, o Art Nouveau tem certas características constantes: 1) a temática naturalista (flores e animais); 2) a utilização de motivos icônicos e estilísticos, e até tipológicos, derivados da arte japonesa; 3) a morfologia: arabescos lineares e cromáticos; preferência pelos ritmos baseados na curva e suas variantes (espiral, voluta, etc),e, na cor, pelos tons frios, pálidos, transparentes, assonantes, formados por zonas planas ou eivadas, irisadas, esfumadas; 4) a recusa da proporção e do equilíbrio simétrico, e a busca de ritmos “musicais”, com acentuados desenvolvimentos na altura ou largura e andamentos geralmente ondulados e sinuosos [...] (ARGAN, 1993, p. 199)


Segundo Pevsner (1962), o naturalismo foi adotado como forma de representação de formas que não fossem criadas pelo homem, não intelectuais e sim mais sensuais.
Outros traços relevantes do movimento são: o funcionalismo, a simplicidade das formas, o erotismo e o dinamismo. Este último remete ao próprio fascínio pelo movimento inerente à sociedade industrializada.

Perante a aceleração crescente do tráfego, da eficiência das máquinas e das possibilidades da ação humana ninguém pôde ficar indiferente. A reprodução fiel deste elemento dinâmico era [...] a ambição essencial da Arte Nova.(COLQUHOUN, 2005, p. 8)


De acordo com Pijoan (1978), o culto por tais formas movimentadas, fluidas e efêmeras é evidente na larga representação de figuras de seres delicados e frágeis, como as borboletas, libélulas e as flores.
Outra questão importante suscitada pelo Art Nouveau é a discussão ornamento versus funcionalidade. Este movimento busca fundir a ornamentação ao objeto, de forma a torná-los inseparáveis e indistinguíveis.

O Art Nouveau é um estilo ornamental que consiste no acréscimo de um elemento hedonista a um objeto útil [...] o elemento ornamental perde progressivamente o caráter de um acréscimo sobreposto à conformação funcional ou instrumental do objeto (tectônica), inclinando-se a adequar o próprio objeto como ornamento e assim se transformando de superestrutura em estrutura. (ARGAN, 1993, p. 202)


Já o sintetismo e o funcionalismo são traços inerentes da própria personalidade pragmática burguesa. O erotismo, em contrapartida, deriva da arte oriental, assim como demais características presentes no movimento, inclusive muitas delas já mencionadas.
Segundo Colquhoun (2005), apesar de ter se difundido em vários campos da arte, o Art Nouveau se manifestou de forma mais veemente nos aspectos decorativos das artes aplicadas, servindo dessa forma à caracterização estilística de objetos, móveis e edifícios.
De acordo com Argan (1993), a difusão desse padrão estético se deu por meio de revistas e arte e de moda, do comércio e dos recursos publicitários, dos espetáculos e das exposições universais, com ênfase à Exposição de Paris de 1900. Segundo Barilli (1991), as artes gráficas, em especial, suscitavam a preferência dos artistas por ser um meio de contato mais fácil e imediato com o público. Buscavam por meio das litogravuras, xilogravuras e dos cartazes, eliminar a distinção entre as belas artes e as artes aplicadas.
Segundo Nute (2000), além de se configurar como um importante meio de difusão da estética nouveau, as exposições mundiais também foram importantes na divulgação das artes orientais, cuja influência foi de suma importância para delimitação de inúmeros traços e características do Art Nouveau.
De curta duração, o Art Nouveau foi superado pelos avanços econômicos e culturais. A aspiração pela popularização da arte de qualidade tornou-se não mais do que uma idealização.

Como no fundo os métodos de produção artesanais não tinham hipótese nenhuma de se afirmar contra os produtos industrializados [...] foi apenas o setor bastante limitado dos bens de luxo sofisticados e caros que conseguiu se afirmar contra a produção industrial. (COLQUHOUN, 2005, p. 16)

O Art Nouveau se desintegrou com a decadência de um conjunto de fantasias burguesas e nacionalistas e com a ascensão inexorável da produção mecanizada e a sociedade das massas. Seus ideais, no entanto, perduraram-se nos movimentos vanguardistas que os sucederam.
Vídeos interessantes:

ART NOUVEAU E O JAPÃO - ASPECTOS GERAIS

Partindo do pressuposto da grande influência exercida pela arte japonesa no Art Nouveau, tornam-se necessárias algumas considerações básicas acerca da cultura nipônica, de forma a delinear bem certos conceitos e características dessa estética oriental.
Segundo Barros (1988), dotada de uma insularidade que lhe é exclusiva, a cultura japonesa criou uma personalidade singular e um caráter arquetípico à sua história. Tal isolamento se finda a partir da Revolução Meiji em 1854 quando, diante de uma série de exigências externas quanto internas, há uma imposição de abertura dos portos japoneses, possibilitando o contato efetivo do Japão com o mundo e vice-versa. De acordo com Nute (2000), a influência da arte japonesa no impressionismo é um reflexo deste novo contexto, estendendo-se e intensificando no Art Nouveau, instituindo o Japonismo em toda a Europa, como uma forma de libertação do academicismo e dos padrões estéticos ocidentais.

A frescura, vitalidade e qualidade abstratas das pinturas ukiyoe cativaram os
impressionistas americanos aquando da exibição das pinturas japonesas em Paris,
Londres e Filadélfia, na segunda metade do século XIX, e iniciaram uma onda de
japonismo. (COLLCUTT, 1997, p 157)

De acordo com Fahr-Becker (2003), pode-se dizer sem exagero que a arte e a estética japonesas repercutiram virtualmente em todos os artistas da virada do século, mesmo que uma ligação direta com as origens específicas japonesas nem sempre possam ser identificadas. As abordagens nipônicas do design de interiores, da decoração e das artes aplicadas moldaram as atitudes dos artistas artesãos europeus em seus trabalhos. Pintores europeus e designers gráficos foram similarmente influenciados por estampas japonesas, adotando a luminosidade de suas cores vivas que pulsavam o ritmo das suas linhas e pontos, o aumento da expressividade de seu traço simplificado e as suas áreas decorativas de justaposição de imagens sobre o plano.





Tanto Vincent van Gogh, William Morris e Charles Rennie Mackintosh foram grandes admiradores das estampas japonesas.




Pinturas de Ando Hiroshige




Pinturas de Van Gogh

Ainda segundo o mesmo autor, pode-se listar, correndo o risco de excesso de simplificação, três razões principais pelas quais a arte japonesa se configurou como uma resposta entusiástica na Europa a partir de 1900. Primeiramente, pode-se apontar o crescimento da demanda por itens de luxo exótico em virtude da revolução industrial de 1870 que criou um grande mercado consumidor de alto nível econômico. Em segundo lugar, artistas, artesãos, designers e arquitetos ansiavam por formas e motivos para substituir o esgotado vocabulário do naturalismo e história da pintura. E por último, a ameaça da qualidade de vida colocada por uma sociedade cada vez mais industrializada foi dando lugar a uma nova espiritualidade, um homem que procurou contrariar a alienação tanto de natureza interior e exterior.
Como parte da nova tendência na arte no final do século, os trabalhos da Koloman Moser e Josef Hoffmann são caracterizados pela aparente contradição dos componentes dos arabescos florais e dos elementos ortogonais. Estas características também são encontradas na concepção japonesa de design, na qual motivos orgânicos e geométricos são combinados harmoniosamente.

Além disso, o artesão japonês era uma figura para quem a "baixa" arte aplicada e a "superior" belas artes gozam do mesmo estatuto - uma igualdade que a Wiener Werkstatte também defendia. Outras características da arte japonesa apropriadas pelo Art Nouveau foram a disciplina decorativa, a manipulação cuidadosa do material e a liberdade no tratamento da superfície.
Segundo Barros (1988), desenvolvimento da cultura nipônica esteve fortemente ligado ao Bun-bu-ryodô e aos preceitos religiosos do shintoísmo e zen budismo, dos quais se extraíram a tradição da profunda tendência estética e artística com vistas ao sintetismo, a aversão à teorização e à hegemonia do intelectualismo, como também a admiração das belezas naturais e o culto às tradições nacionais e ao misticismo. Todas estas características, como inúmeras outras, são perceptíveis na produção do Art Nouveau, mesmo que de forma obtusa.






Outros aspectos inerentes à arte japonesa também são de suma importância para a construção da estética nouveau. Fazendo uso de uma desobrigada análise específica por meio das obras, é possível listar uma série de influências nipônicas mais comuns na produção do Art Nouveau. Relativos à questão formal são notáveis o linearismo suave e preciso, a assimetria, a sinuosidade, a delicadeza, a fluidez e a estilização das linhas. De acordo com Lésoualc'h (1969), o traço japonês é, diferentemente do ocidental, extremamente expressivo, representando a condensação do movimento e a mudança em estado puro. A definição dos traços também se contrapõe às pinturas ocidentais, nas quais prevalecem a noção do volume.



Quanto aos aspectos compositivos são marcantes a perspectiva obtida por superfícies planas, o formalismo, o divisionismo, os recortes de imagem, o deslocamento do ponto de fuga, a liberdade da ordenação do espaço, a obliqüidade e a ausência do sombreamento. Segundo Lésoualc'h (1969), o tratamento da superfície se faz de forma a cobrir todo o papel com cores cálidas e delicadas em tintas planas, compondo a imagem com volumes cuidadosamente construídos com padrões têxteis e contornados com traços mais escuros, contrastando com os espaços vazios. Já o deslocamento do ponto de fuga para cima, permite uma visualização de cima para baixo da imagem, configurando-se como um traço marcante da pintura japonesa.







Algumas temáticas nipônicas também são apropriadas pelos artistas nouveau, como por exemplo, a feminilidade, o erotismo e a natureza. Outros aspectos japoneses também são invocados, como o luxo, a expressividade, a abstração, a sobriedade, o humor e caricaturas, o decorativismo, o simbolismo, o refinamento (espírito de finura), a sensibilidade, a dramaticidade, como também os padrões cromáticos orientais tradicionais.







Na arquitetura, segundo Kultermann (1987), a peculariedade japonesa também se afirma mediante a flexibilidade dos espaços e a forte integração dos jardins com a casa na arquitetura doméstica.

Na extrema singeleza que caracteriza as artes que traduzem as produções mais altas do espírito nipônico – na poesia, na arquitetura, na pintura e na música –, assim como na artesania em geral e nas artes e rituais físico-espirituais (como ikebana, kendô, shodô, chadô, o arranjo de flores, a esgrima, a caligrafia, a cerimônia do chá), manifesta-se um refinamento que traduz a experiência acumulada de séculos ou milênios, e onde o ritual estrito de alguma forma exclui a inconfundível individualidade expressa por seus praticantes. [...] Mas o refinamento, a sutileza, as sugestões diferenciadas que individualizam as obras culturais nipônicas, são precisamente o ponto em que se compraz o espírito desse povo eminentemente estético. (BARROS, 1988, p. 130)



Todos esses elementos estão presentes em maior ou menor medida nas produções do Art Nouveau, seja de forma clara ou obtusa. A análise de algumas obras nas mais diversas manifestações artísticas permite evidenciar como a cultura nipônica influenciou veementemente o estilo nouveau.

ARTES GRÁFICAS

As artes gráficas são provavelmente a manifestação artística na qual as influências japonesas de processam de forma mais nítida e intensa na produção do Art Nouveau, principalmente sob a forma de cartazes e ilustrações de revistas e livros.
Este movimento de ilustração de revistas e livros foi então acompanhado pela expansão do cartaz

[...] o “cartaz artístico” foi visto como uma forma de “democratização”: “a arte deve ser acessível a todos [...] e para atingir esse fim deve descer à rua e cruzar no seu caminho os milhares de trabalhadores que não podem consagrar-lhe tempo nem dinheiro. Esta idéia [...] dá conta da importância artística e social atribuída a um novo e incrementado veículo publicitário que já era objeto de exposições, de coleções [...], de álbuns [...], de livros [...], de revistas especializadas [...] (FRANÇA, 1987, p. 184)

Um dos principais expoentes dessa vertente gráfica foi Toulouse-Lautrec, cujos cartazes foram fortemente influenciados pelas xilogravuras japonesas. Segundo Arnold (2005), os elementos nipônicos presentes nas obras de Lautrec são os contornos acentuados, as estilizações, a simplificação das formas, a ausência de sombras, uso de linhas diagonais na composição e arabescos decorativos, como também de deformações para conferir maior expressividade às obras. Harris (1981) complementa esta lista de influências com o estilo linear, o uso de cores brilhantes lisas e de cortes na composição.




Segundo Harris (1981), o cartaz O baile de Moulin Rouge apresenta nítidos traços nipônicos como os contornos audaciosos, as vastas áreas de cor lisa, a qualidade caricatural e dos detalhes. Complementando este enfoque Arnold (2005) também aponta a composição diagonal, o deslocamento do ponto de fuga, a acentuada simplificação bidimensional e o contraste das figuras com o fundo claro. O cartaz Troupe de Mlle Églantine também segue as mesmas tendências niponizantes.



Os cartazes Reine de Joie e Jane Avril Jardin de Paris também compartilham das mesmas características, apresentando, no entanto, cores mais acentuadas.
Outro artista importante do campo das artes gráficas foi Aubrey Beardsley (1872-98), cujas refinadas ilustrações em preto e branco deveram muito às gravuras e às estampas eróticas japonesas e, em certa medida ao teatro kabuki.. Suas obras para a revista Yellow Book talvez sejam as suas mais memoráveis. A forte estilização, a perspectiva obtida por meio de planos, a ausência do sombreamento, o cunho caricatural, a simplificação das formas, os recortes de imagem, a expressividade são as características nipônicas mais facilmente identificadas nessas ilustrações para a Yellow Book.



Outra importante obra do mesmo autor é a ilustração Salomé feita para Oscar Wilde. O erotismo e a decoração curvilínea são alguns dos elementos nipônicos presentes nesta obra, além daqueles encontrados nas ilustrações da Yellow Book.

De acordo com Barttrrsby (1985), o cartaz Loie Füller de Manuel Orazi é também uma notável obra gráfica da época, apresentando uma forma alongada semelhante ao kakemono japonês (pintura comprida e estreita em seda, pendurada verticalmante) e empregando emblemas familiares japoneses.

Outro importante artista gráfico da época é Georges de Feure, cuja produção apresenta nítidos traços nipônicos. A composição das figuras em planos sem sombreamento, a sobriedade, as curvas sinuosas, a estilização, os contornos marcantes, a retração de figuras femininas e da natureza e o uso de arabescos decorativos talvez sejam as características japonesas mais marcantes nas de Feure.


A semelhança da vestimenta, o uso de padrões têxteis e o contraste das figuras com o espaço vazio da composição também são elementos que aproximam as obras abaixo com a produção artística japonesa.





Alfons Mucha também teve sua produção gráfica fortemente influenciada pelo Japão. Segundo Barilli (1991), “sua arte possuía muito pouco do espírito sintético; ele tinha um talento especial para desenhos de mulheres belas e com fartos enfeites, ornados com um esplendor oriental”. (p. 101) Além de compartilhar dos elementos nipônicos presentes nas obras dos outros artistas já mencionados, Mucha faz uso, no entanto, de forma mais intensa da temática feminina e naturalizante, dos arabescos requintados, dos tons mais sóbrios, dos contornos mais fortes e das cores lisas em composições nitidamente bidimensionais.

PINTURA

A pintura do estilo nouveau, assim como as artes gráficas, também foi claramente influenciada pela cultura japonesa, inclusive, novamente, sob o nome de Toulouse-Lautrec. O quadro Circo Fernando é, talvez, a obra que melhor representa a presença de traços nipônicos, a exemplo da composição oblíqua divisionista e do uso de tintas lisas.



O palhaço que faz momices, a esquerda, o seu colega de pé no patamar da escada,
ao fundo, assim como os espectadores nas bancadas são cortados drasticamente
pelos contornos da composição – também isso é um processo “japonês”. (ARNOLD,
2005, p. 22)


A temática da vida cortesã, imbuída de sensualidade, expressividade e erotismo, também é um elemento inspirado na produção artística japonesa.
A produção de Gustav Klimt também revela vários traços nipônicos, como por exemplo o uso de padrões “têxteis”, o contraste das figuras com o espaço vazio, em geral em tons claros, a expressividade, a sensualidade, a retratação de figuras femininas, a fluidez, a simplificação bidimensional, as deformações, a delicadeza e o uso de cores sóbrias e lisas e também de curvas sinuosas.
[...] evitou a falta de fluidez das obras acadêmicas utilizando de uma disposição altamente engenhosa e imaginativa das formas em suas composições. Suas figuras aparecem entrelaçadas em complicados padrões-corrente, ou reclinando-se de modo espetacular, ou em ângulos oblíquos de um lado a outro da composição. (Barilli, 1991, p. 107)




Pinturas japonesas

O quadro O Banho de Mary Cassat também apresenta essa composição oblíqua, além de fazer uso também de formas simplificadas e de composições planas, conforme a análise de Janson (1989).


O quadro Visão após o sermão: Jacob lutando contra os anjos também está imbuído de elementos nipônicos. Segundo França (1987), a obra é caracterizada pela autonomia formal, pela síntese, pelo uso de planos coloridos e de um grafismo nitidamente inspirado nas xilogravuras japonesas. Walther (2005) complementa esta análise apontado o claro divisionismo presente na obra, que separa dois grupos de figuras que atuam de forma contraditória na tela. Já Janson (2001), aponta o linearismo e a organização espacial como elementos japoneses marcantes na obra.


A composição plana presente nas estampas nipônicas também está presente no quadro Nabi trés japonard de Bonnard, no qual também são perceptíveis o contraste da figura com o espaço vazio, em tom claro, como também o forte contorno que delimita a área da figura.